Olhe bem para esta imagem… preste bem atenção em seus detalhes… Esta imagem diz muito mais de Economia do que seus olhos podem imaginar! Acredite, você irá se surpreender!

E se fosse possível viver bem, viver com saúde, em paz, em harmonia, com uma vida plena e realizada? Talvez seja este o desejo de muitas pessoas. Salvo algumas exceções pelo mundo, a maioria não vive assim. E a pergunta fundamental é: como podemos ter tal tipo de vida?

Antes de responder a essa questão temos de explicar sobre o que é Ciência, pois em última análise é ela quem investiga essas questões.

Etimologicamente o termo ciência vem do latim scientia que significa conhecimento, consciência, doutrina, erudição, estudo, instrução, letra, luz, saber, noção. Ela tem alguns pressupostos básicos:

  1. É uma atividade de reflexão que leva à compreensão, explicação e alteração do cotidiano a partir do seu estudo sistemático;
  2. Ela deve estar baseada na realidade cotidiana para podermos pensar sobre a mesma. É este seu objeto de estudo;
  3. Ela sistematiza um conjunto de conhecimentos sobre fatos e/ou formas da realidade;
  4. Discorre sobre estes conhecimentos por meio de linguagem precisa e metódica;
  5. Os conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada para que se verifique sua validade, e;
  6. Se houver uma possibilidade ou teoria mais simples que explique um fenômeno observado, ela deve ser utilizada em detrimento de algo mais complexo, salvo se as evidências observadas mostrarem o contrário
  7. Ela deve ser neutra, a partidária, sem dogmas ou ideologias para que sua análise apure com veracidade a análise feita;
  8. Deve levar também em conta todos os aspectos da complexidade da realidade observada e tratá-la dela por inteiro e não por partes sob pena de dar soluções ou responder perguntas de forma inadequada ou incompleta;

A imagem acima mostra uma imagem que traduz bem como é tida a ciência hoje em dia: dividida, fracionada em um modelo cartesiano, onde uma área não deve atuar ou investigar em outra. Assim temos um indivíduo doente do pé, com problemas sentimentais e psicológicos. Ele está “fracionado”, neste caso, em 3 partes onde cada profissional irá ajudá-lo à sua maneira e na sua área de atuação. Mas não necessariamente levando em conta a inter-dependência ou correlação que uma coisa tenha a ver ou leve a outra.

Quando queremos ajudar o ser humano, integralmente, não podemos tratar de sentimentos, sem considerar sua religiosidade; sua pressão alta, sem saber o que o preocupa; suas finanças, sem saber do seu passado; sua educação, sua filosofia de vida etc. Enfim, não podemos tratar do homem “em pedaços”. Até hoje, o médico trata do corpo; o psicólogo de alguns problemas de ajustamento social; o padre de problemas religiosos; o psiquiatra de seus medos, delírios e alucinações (com remédios, choques elétricos e internações) e assim por diante. Assim sendo, a sociedade também está fragmentada em pedaços isolados que, não raro, são conflitantes entre si. É ocaso da incompatibilidade existente entre Ciência, Filosofia, Teologia, Economia, Política etc. Essa é a esquizofrenia existente no interior dos seres 3 humanos, projetada na vida social, que divide tudo: pais e filhos, homens e mulheres, patrões e empregados, o governo e o povo, as classes sociais etc. Nascemos como seres unificados, e assim devemos ser tratados. Portanto, teria de haver uma ciência integral, também unificada, que tratasse o ser humano e sua vida de maneira total. (idem, p. 13)

Norberto Keppe, salienta que prefere colocar elementos como as artes, em sua análise da sociedade em detrimento da matemática:

A Matemática não é uma ciência muito exata porque é uma ciência que depende muito das ideias que os matemáticos têm da realidade, então, em grande parte, é um processo dedutivo e não indutivo, e não tão científico como pensam. (...) Então eu colo os três graus de conhecimento, no primeiro grau a Física, o elemento material, o segundo grau, ao invés de colocar a Matemática, a parte estética, as artes, porque as artes exigem que a pessoa tenha além dos conhecimentos [anteriores, como demonstra com gestos no vídeo usado, nota nossa], uma parte de emoção muito ligada à valores transcendentais. E a terceira parte, portanto, a metafísica. (https://www.youtube.com/watch?v=XapegJl7Q2Y Sociopatologia, Programa HU, n. 373, acesso em 30-12-21)

Então apresenta um esquema didático que exemplifica a forma como observa a realidade humana e social e como faz ciência:

Ele explica a imagem acima a partir da primeira coluna onde a seta está apontando que esse bem (ação boa) produz a verdade (ligada à metafísica) que produz o belo. Estes três são a base fundamental de nossa realidade. Deles decorrem suas respectivas derivações e recebem influências, bem como também estão ligados e dependentes um do outro. Por 4 exemplo, ao afeto, à teologia e às concepções artísticas. Por isso este trabalho também tem muitas figuras feitas por artistas. Importante dizer que o vasto ramo do conhecimento que se tem é impossível de explicar “em um programa de televisão”, menos ainda em um pequeno trabalho como este.

Portanto, vamos definir a Ciência como a forma mais bela de se abordar os fenômenos observáveis no dia a dia, aplicando recursos técnicos (isso podem incluir equipamentos, seguindo um método que integre o pensamento, o sentimento e a ação e suas respectivas interdependências e apoiando-se em fundamentos epistemológicos.

Lembram-se do passarinho tomando água?

Como podemos analisar cientificamente aquele acontecimento de nossa realidade?

Uma primeira resposta é considerando aspectos econômicos, já que este é nosso foco aqui.

Parece normal uma ave beber água daquela maneira?

Uma vez definida a Ciência, vamos agora passar a explicar o que é Economia. O consenso geral de todos os autores é de que o problema central do ser humano é a escassez. A tal ponto que “Lidar com a escassez é a essência da condição humana” (Frank, 2013, p. 4). De modo que ninguém pode ter tudo, muito embora uma parte das pessoas mais doentes, se pudessem teriam (Keppe, 1987 e 2003). Exemplificando: nunca conseguiremos estar em dois lugares ao mesmo tempo ou ler dois livros ao mesmo tempo. Podemos intercalá-los, mas não lê-los ao mesmo tempo. Assim, faz-se necessário perguntar como podemos otimizar nossa própria limitação para conseguir ter o maior e melhor bem estar possível. A final, a criação é infinita e só o CRIADOR consegue estar ao mesmo tempo em todos os lugares, não nós. Então temos o problema da escassez e da escolha: como otimizar os recursos escassos de modo a produzir o que precisamos para quem precisamos? Veja a imagem:

(fonte: https://slideplayer.com.br/slide/1468289/ , acesso em 03-01-22)

Voltando ao caso do passarinho: parece que ele estava com sede e não havia nenhuma outra fonte de água potável por perto, exceto uma escassa gota na torneira. Valia a pena, passarinho, se pendurar na torneira para matar a sede?

(fonte: https://www.contabilidade-financeira.com/2014/09/custo-de-oportuhttps://www.contabilidade-financeira.com/2014/09/custo-de-oportunidade.htmlnidade.html, acesso em 03-01-22)

Por esta simples estorinha em quadrinhos é possível perceber que há algo nas escolhas das pessoas que os economistas chamam de custo de oportunidade, ou seja, do que eu abro mão para poder ter aquilo que desejo/preciso?

Voltando ao passarinho, ele deve ter abrido mão de sua segurança para beber a água. A final poderiam querer matá-lo, seja um gato ou um humano. Além disso, um escorregão e ele poderia cair no chão e se machucar, caso a torneira fosse muito próxima do chão.

O passarinho tinha o problema da escassez e teve de fazer uma escolha: tentar viver, mas para isso teria de se arriscar ou morrer de sede. Valeu a pena correr o risco para produzir este bem-estar para si da forma como ele fez? Aliás, havia água naquela torneira?

Todavia, indo mais além, outra pergunta é: e os seres humanos o que fazem para satisfazerem suas necessidades? É normal? Está tudo bem a forma como fazemos isso?

Bom, vamos analisar um pouquinho algumas informações mais técnicas sobre Economia para continuar respondendo a estas perguntas. Ceteris Paribus, Oferta, Demanda e Ponto de Equilíbrio.

As fazemos pesquisas econômicas e elaborarmos modelos matemáticos para investigar a realidade, usamos conceitos análogos à físico-química, como o “sob condições normais de temperatura e pressão, a água evapora a 100ºC”. Assim uma equação é feita em laboratório mantendo essas condições e a água evapora! Em economia usamos o “ceteris paribus”, que tem a mesma ideia.

A demanda de algo pode ser entendida como “a relação inversa entre preço e quantidade demandada, mantendo-se constantes todos os demais fatores que influenciam a demanda” (BESANKO, BRAEITIGAM, 2004, p. 20). Ela nos mostra “a quantidade que os consumidores desejam comprar à medida que muda o preço unitário (...) é decrescente: os consumidores geralmente estão dispostos a comprar quantidades maiores se o preço está mais baixo” (PINDYCK, RUBINFELD, 2006, p. 19).

A oferta está ligada ao que tem disponível ou ao que se coloca como aceitável, como disponível para consumo (Ariely, 2008).

Já o ponto de equilíbrio está ligado ao ponto em que “ambos se encontram”, assim, todas as necessidades seriam saciadas, sejam dos ofertantes, quanto dos demandantes. Matematicamente falando, nós igualamos as equações para se achar o ponto de equilíbrio. O gráfico abaixo ajuda a ilustrar isso:

Fonte: elaboração própria a partir das fontes consultadas

A demanda está fatalmente ligada ao comportamento do consumidor, “como os consumidores alocam sua renda entre bens, explicando, assim, como essas decisões de alocação de recurso determinam as demandas de diversos bens e serviços” (idem, p. 56). Ainda segundo os autores, a compreensão das decisões de compras por parte dos consumidores ajudam a entender como as mudanças na renda e nos preços afetam a demanda e por que a demanda de certos produtos é mais sensível do que a de outros às mudanças nos preços e na renda. Usualmente, a economia calcula isso e o chama de elasticidade (Besanko, Braeitigam, 2004). A isso estão ligados três objetos que a Economia estuda: as preferências do consumidor, sua restrição orçamentária e por fim as suas escolhas.

Para que esses bens e serviços, a renda, o preço e demais variáveis aconteçam, temos de entender que existem fatores de produção que podem mexer com o equilíbrio da economia. Sendo a firma é a unidade básica de produção de um sistema econômico. Mesmo que seja uma firma individual. Pressupõe-se que a firma interagirá com outras firmas, pois não estamos em uma economia fechada, de subsistência, sem movimento, sem trocas, sem outras interações com outras pessoas e firmas.

(fonte: elaboração própria a partir das fontes usadas)

Esses fatores de produção atuarão em toda a sociedade na “roda” da economia onde as famílias deveriam buscar a máxima satisfação (bem-estar), data sua restrição orçamentária e limitação natural de um ser criado (maximizando sua utilidade) e as firmas visariam ao máximo lucro, dadas suas limitações de fatores de produção dependentes da forma como processam e transformam as energias das coisas em outras coisas.

(fonte: Passos, Nogami, 2009, p. 69)

Note como há uma interdependência de várias variáveis econômicas neste esquema da imagem: famílias consomem, firmas produzem, governos recebem impostos e assim sucessivamente até a economia girar e funcionar como se fosse uma grande engrenagem de um motor onde o óleo que permitisse tal movimento seria o dinheiro e o combustível seria a necessidade, o desejo dos agentes econômicos envolvidos: consumir, produzir, arrecadar.

Vale a observação de que a Economia convencional entende que sempre os agentes são racionais e fazem as melhores escolhas (Mankiw, 2009). Na verdade, vemos que não é assim, mas que deveria ser assim em todos os aspectos. Na verdade somos previsivelmente irracionais em nosso modo de agir (Ariely, 2008 e Ferreira, 2008). Além disso somos tremendamente influenciados pelo meio ambiente como ficará mais evidente adiante.

A ideia de uma economia de mercado (mesmo com governo) é garantir seu correto funcionamento, ou seja:

  • Eficiente alocação dos recursos escassos;
  • Distribuição justa da renda, e
  • Estabilidade de preços.

E o passarinho tomando água de ponta cabeça em uma torneira quase seca? Qual preço você pagaria para matar sua sede no lugar dele? Se havia água lá, será que era realmente potável ou será que podia ter algum bicho, alguma sujeira do cano? Veremos mais adiante algumas coisas que ajudarão a entender esses pormenores…

Por hora, precisamos tocar, ainda, em alguns pontos também importantes e técnicos de Economia antes de aprofundarmos nosso estudo.

Vamos falar agora das estruturas de mercado.

É essencial entender sobre estruturas de mercado pelo simples fato de que nossa realidade como se apresenta desde alguns milênios sempre foi organizada desta maneira, seja em maior ou menor grau.

Nesta tabela temos um resumo de como as firmas se organizam. Vale dizer que há casos em que existem monopólios naturais como transporte públicos, saneamento básico, forças militares, etc. Para estes, tecnicamente os custos fixos são muito elevados ao passo que os custos fixos e marginais são bastante reduzidos. Todavia, algumas sociedades se organizaram inserindo o capital privado nessas áreas por meio de concessões e permitindo, em tese, uma maior eficiência de gestão que o Estado em si não consegue ter (vide modelo de economias socialistas ao longo da história). Há alguns problemas com essas concessões, dos quais destacamos os 2 principais:

  • O Estado (seja ele reino, cidade-estado, tribo, país ou outra forma de governo) é ineficiente, seja porque foge de suas atribuições de Estado, seja porque as pessoas que galgam o poder deixam-no assim, reforçando-o;
  • Quem são os donos das empresas que ganham essas concessões ou fornecem insumos para elas? Quem está por detrás delas?

Assim vemos que não importa o regime político adotado ao longo da história, sempre houven uma estrutura, uma forma, uma status quo de se lidar com o poder político-econômico.

Indo um pouco mais adiante e de forma ainda reduzida temos de falar de mais alguns pontos importantes: a Micro e a Macroeconomia.

(fonte: https://slideplayer.com.br/amp/5604851/ , acesso em 03-01-22)

Não vamos entrar nos vários detalhes que compõem cada área pois o objetivo aqui não é formar economistas, mas dar uma visão geral que será de fundamental importância para entender depois o que e porquê acontece em nossas vida certas coisas… Por exemplo, lembra do passarinho na torneira? Por que ele foi tomar água na torneira e não em uma fonte natural de seu ambiente? Certamente ele não teria precisado ter feito aquele “malabarismo aviário” para matar sua sede

Sigamos adiante em nosso estudo…

ENTENDENDO O MALABARISMO AVIÁRIO

Abraham H. Maslow em sua hierarquia das necessidades humanas, esquematizou o que ficou conhecida como a Pirâmide de Necessidades Humanas ou de Maslow, indicando, em 11 resumo, que as pessoas têm necessidades mais elementares para serem sanadas e que só após atendidas, podem galgar níveis superiores:

Fonte: https://www.laboneconsultoria.com.br/maslow/ , acesso em 31-12-21.

O professor Hélio Couto chega a afirmar que ainda existe um 6º degrau “que é a fusão com o Divino (...) seus átomos, a nível quântico seu (...) é possível para ele 1 , se ele quiser, se fundir, a onda dele com a onda do Divino” (disponível em: https://www.youtube.com/https://www.youtube.com/watch?v=HRBZBb6zSeMwatch?v=HRBZBb6zSeM , acesso em 31-12-21). Ao fazermos isso, nós nos transformaríamos, transmutaríamos em outra coisa, mas sem perder nossa individualidade. Tudo isso está além do paradigma atual da existência humana, que, segundo o autor, vive, via de regra, no primeiro e segundo degraus da mesma pirâmide.

Alguns dados de pesquisa mostram como e o porquê as pessoas vivem, via de regra, até o2º degrau:

  • Segundo dados Banco Mundial, a humanidade chegou em 2015 à taxa mais baixa de pessoas em situação de extrema pobreza, ou seja, que vivem com menos de USD 1,90 2 . A Ásia e África em geral tinham melhorado seus índices e as únicas exceções ficaram por conta dos conflitos na Síria e Iémen. (https://www.worldbank.org/pt/news/press-release/2018/09/19/decline-of-global-extre me-poverty-continues-but-has-slowed-world-bank , acesso em 04-01-22)
  • Uma reportagem da UNICEF, (fonte: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/relatorio-da-onu-ano-pandem ico-marcado-por-aumento-da-fome-no-mundo , acesso em 04-01-22) ainda que preliminar, apontou que com a pandemia, "Houve um agravamento dramático da fome mundial em 2020". A reportagem segue ainda dizendo muitas crianças são vítimas da fome, sobre a segurança alimentar de diversos países e sobre uma conjuntura crítica e destacam para uma esperança no momento diplomático com relação à transformação dos sistemas alimentares. Citam a mudança climática, a COP26 e cúpula sobre nutrição e crescimento. Em resumo alguns dados são:
    • no final da década de 2010 a fome já aumentava, “destruindo as esperanças de um declínio irreversível”;
    • com a pandemia a situação se agravou, “ultrapassando o crescimento populacional”;
    • 418 milhões vivem na Ásia, 282 na África e 60 milhões na América Latina, sendo 21% no continente africano que possui a maior proporção;
    • em 2020 mais de 2,3 bilhões (cerca de 30% da população mundial) não tinham acesso à alimentação adequada 3 “saltou tanto quanto nos cinco anos anteriores combinados”;
    • para cada 10 homens com insegurança alimentar, havia 11 mulheres na mesma situação, esse valor aumentou também;
    • mais de 149 milhões de crianças menores de 5 anos sofriam de desnutrição crônica, sendo mais de 45 milhões de desnutrição aguda, ao passo que quase 39 milhões estariam acima do peso. Há uma nota de rodapé que aqui colocaremos no texto “As regras de distanciamento social tornaram os dados nutricionais excepcionalmente difíceis de coletar em 2020. Alguns números – especialmente para crianças menores de 5 anos – podem ser maiores do que essas estimativas.” (idem);
    • 3 bilhões de adultos e crianças ficaram sem alimentação saudável, em parte devido à inflação nos alimentos;
    • perto de um terço das mulheres sofre de anemia;
    • a reportagem também elenca algumas medidas que podem ser adotadas para mitigar os danos antes e depois da pandemia, de modo que haja um ambiente propício entre as intituições e formuladores de politica que torne a transformação possível. Termina informando: “recomenda que os formuladores de políticas façam consultas amplas; capacitem mulheres e jovens; e expandam a disponibilidade de dados e novas tecnologias. Acima de tudo, insistem os autores, o mundo deve agir agora – ou vai assistir aos determinantes da fome e da má nutrição reaparecerem com intensidade crescente nos próximos anos, muito depois de passado o choque da pandemia.” (ididem);
  • o índice de Gini 4 , pode ser um dos instrumentos muito bons para diagnosticar não somente o grau de desigualdade social de um país, ou região, mas ajuda a entender quão socialmente doente está uma sociedade. Em junho de 2021 o banco Credit Suisse publicou um relatório muito interessante mostrando, dentre outras cosias, quão desigual o mundo é. Nós usamos aqui a figura da Wikipedia por ficar muito mais clara a comparação (eles usam os dados do referido relatório 5 ):

(fonte da imagem a partir dos dados do referido relatório: https://pt.wikipedia.org/wiki/Coeficiente_de_Gini , acesso em 04-01-22)

Note como os 1% mais ricos do mundo detém 46% da riqueza (cor azul) e os 1% mais pobres representam a população global (cor vermelha). Se somarmos entre os mais pobres e mais ricos, vemos que 88% da população detém cerca de 15% da riqueza mundial, ao passo, que aproximadamente 12% possuem 85% da fortuna do mundo.

A Oxfam, uma ong britânica de análise de dados sociais, publicou em 2020 umrelatório muito interessante mostrando, com dados de 2019, dentre outras coisas, que

  • “2.153 bilionários do mundo têm mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas (60% da população mundial)” e que
  • “se o 1% mais rico do mundo pagasse uma taxa extra de 0,5% sobre sua riqueza nos próximos 10 anos seria possível criar 117 milhões de empregos em educação, saúde e de cuidado para idosos.” (disponível em https://www.oxfam.org.br/noticias/bilionarios-do-mundo-tem-mais-riqueza-do que-60-da-populacao-mundial/, acesso em 20-12-21)
  • na reportagem sobre a pandemia (disponível em https://www.oxfam.org.br/publicacao/pandemia-e-desigualdades/ acesso em 04-01-22) há algumas informações ainda mais intrigantes, como a de que os mais ricos 6 levaram 9 meses para recuparar as perdas com o choque da pandemia em março/20. Além disso, acumulam uma riqueza de US$ 11,95 trilhões, igual ao que as 20 maiores economias gastaram com a pandemia. Em resumo, dizem que a recessão acabou para os mais ricos, que as mulheres são as que mais sofrem, a desigualdade de raças tira vidas e que economias mais justas são a chave para uma recuperação econômica rápida.

Segundo o documentário Monopoly, citando dentre outros, os estudos da Oxfam e tomando como exemplo um dos maiores fundos de investimentos do mundo, mostrou, ainda, que "dois terços de todos estes bilionários obtiveram a sua fortuna através de herança e monopólios. Portanto, isto significa que a Vanguard, por exemplo (há alguns outros “super” fundos na lista) está nas mãos das famílias mais ricas da Terra." (disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FYPoSFQHn58 , acesso em 30-12-21). O mesmo documentário também mostra como, por meio de fundações, ONGs e grandes fundos de investimentos, camuflam essas famílias e pessoas mais ricas e poderosas do mundo. Mostra uma camada de poder que financiam iniciativas de seus interesses próprios e controlam quase todas as grandes empresas da Terra em diversas áreas da atividade humana: de jornalismo à alimentação. Ele cita alguns nomes de famílias, inclusive e usa a seguinte imagem para comprovar sua tese de domínio e poder:

Imagem disponível em: http://cboffice.com.br/blog/2018/09/httpwww-mundodageografia-com-bras-10-maiores-empresas-de-alimentos-do-mundo/ , acesso em 30-12-21.

A assessoria empresarial citada na imagem acima complementa a informação informando que “Essas corporações são tão poderosas que as suas políticas podem ter um grande impacto sobre as dietas e condições de trabalho das pessoas no mundo, bem como sobre o meio ambiente.” (idem)

Corroborando e aprofundando esta análise, Dra Maria Pereda em seu longo estudo sobre a verdadeira história da humanidade, da economia e do poder no mundo, mostra com vasta fonte bibliográfica como linhagens de famílias remontam há séculos de existência e se perpetuam no poder mudando de nomes, se casando com outras linhagens e se escondendo em instituições ou governos até os dias atuais. Ela mostra ainda como algumas antigas corporações, (Companhia das Índias Ocidentais, etc), reinos (Império Britânico, Romano, Chinês, Mogol, Espanhol, Kazária, etc), inclusive religiosas (Jesuítas, Hashashin, Sionistas, etc) foram usadas, fizeram e impuseram isso até o advento da 2ª guerra mundial e após a mesma.

Nos dias de hoje, a cientista mostra como as grandes corporações (farmacêuticas, mídia, tecnologia, financeira, etc), manipulam ou tentam manipular a realidade a seu favor, para criar uma outra de acordo com seus interesses. Mostra também como pessoas e empresas pequenas no início (e muitas com boas ideias, inclusive) se tornam tão grandes por conta dos financiamentos e direcionamentos desses poderosos milionários. A tal ponto que praticamente nenhuma grande empresa (de todas as áreas da sociedade) ou grande pessoa de destaque (político, artista, empresário, cientista, etc) foge ao seu controle e tutela. Tais pessoas ou empresas só ficaram assim porque foram e são promovidas e controladas por eles: “Se for pequeno, é normal; se for grande, desconfie; se for enorme, tenha certeza”. (conteúdo de curso privado em plataforma Hotmart, disponível em https://mcpereda.com.br/ , acesso em 30-12-21 7 ).

Como relatado no documentário referido acima do Monopoly

“menos de um punhado de mega corporações dominam todos os aspectos das nossas vidas (...) desde um pequeno almoço que está em cima da mesa de manhã até o colchão onde dormimos a noite. E tudo o que fazemos, vestir ou consumir no permeio, tudo depende em grande parte destas empresas. Estas são empresas de investimentos de proporções imensas e elas conseguem os grandes fluxos de dinheiro da Terra. Eles são os protagonistas da peça a que estamos actualmente a assistir.” (op. cit)

Então, se olharmos a nossa volta e “andarmos” pelos países do mundo, veremos várias coisas que, na verdade, não deveriam existir, como guerras, fome, doenças, miséria, concentração de renda, formas de violência, enfim, a lista é longa... Talvez uma outra localidade esteja melhor do que outra, mas o consenso geral é de que o mundo é um local (ainda) ruim ou péssimo de se viver. Além disso, a História parece nos mostrar que nenhum país ou reino mais desenvolvido ao longo da história jamais quis desenvolver outro país ou povo, ao contrário, ele quis conquistar, usurpar, aproveitar e aumentar seu poder e influência. Inclusive, caso necessário, utilizava-se a força bruta (com guerras, massacres, assassinatos, extermínios e genocídios).

por trás das estruturas sociais, políticas e econômicas, de todas as leis, que o povo tanto respeita e admira, existe uma grande doença, repleta de más intenções, inveja 8 , desejo de poder, exploração e manipulação.Na verdade, Keppe descobriu que, ao contrário do que se pensa, o homem tem que se defender das instituições, das leis,e dos sistemas dominantes, pois são, exatamente, a principal causa das neuroses, psicoses, doenças e problemas humanos.(PACHECO, 2001, ABC da Trilogia Analítica, p, 17)

Portanto, pode-se dizer que a imensa maioria da população está apenas nos níveis mais básicos da existência: o primeiro e o segundo degrau da Pirâmide de Maslow e sem condições de galgar os níveis mais acima. Entendemos, que deveríamos viver a plenitude da existência (o quinto degrau) e ascender mais ainda. Como isso não ocorre, via de regra, então nossa sociedade está doente. E está doente há muito tempo. E por que?

O povo, ao mesmo tempo que é esmagado pelos poderes sociais (econômico, político, religioso), sofre também pressão dos indivíduos que se tornam poderosos — e este fato acontece com a maioria dos seres humanos que chega ao poder, porque ele é por si mesmo alienante. Estou explicando que, como a organização econômico-social é invertida, toda pessoa que deseja e alcança o poder automaticamente entra a serviço da desonestidade. Se a cultura social é assim, não adianta esperar qualquer modificação dela; temos de organizar um grupo de seres humanos melhores, que exerçam pressão e ajude todo o povo a conscientizar tal fenômeno. (KEPPE, 1987, Libertação, p, 23)

Não adianta querer convencer os poderosos (do poder econômico-social) de seus erros, porque eles são doentes que não têm condições de olhar para sua própria doença; eles precisam de tratamento, como os enfermos mentais mais graves. (...) O que sempre tenho notado em meus trabalhos de análise 9 é que grande parte dos indivíduos analisados, demonstram claramente uma oposição ao que é bom, real e bonito, que é uma atitude demoníaca — pois bem, os poderosos têm exatamente essa conduta, de tentar brecar e se opor ao desenvolvimento da humanidade. (idem, p. 30)

Ainda na opinião de Keppe, a influência não vem só da doença da pessoa em si, reforçada pela sociedade, mas tem também uma influência maléfica não-humana:

Os demônios queriam fazer o seu reino; então, escolheram os seres humanos, como seus escravos; deu também poder a algumas centenas de servos, obedientes aos seus desígnios e montou o seu reinado na Terra — por este motivo, Cristo os chamou de príncipes deste mundo. Para que fossem obedecidos, usou dos seguintes estratagemas; 1) a vanglória e o elogio, para os seres humanos se encantarem com eles; 2) a alienação, para ninguém perceber como sofre, com tal escolha. (...) Temos de desconfiar de todo indivíduo que deseja o poder, porque isto é profundamente patológico; é o mesmo desejo dos demônios e dos seres humanos endemoninhados de subtrair para si mesmos o poder que é só de Deus; em minha opinião, parece que é o próprio pecado original. Existe um só tipo de poder, que é o do Criador, que ele usa no sentido de criar, de realizar o que é real, ou melhor, o que é bom, verdadeiro e belo; qualquer outra atitude, afora esta, tem o sentido de impedir a realização do bem na face da Terra. (ibidem, p. 40) 10

Corrobora com esta tese Hélio Couto que em diversos vídeos de seu canal demonstra como, por ressonância (estar no mesmo padrão de vibração) e por nascimento de linhagens as pessoas em cargos de poder são influenciadas e colocadas lá por entidades não-humanas (disponível em https://www.youtube.com/watch?v=7VqvACMs2D8&t=3715s , acesso em 31-12-21 11 ). Um ilustração mostra melhor como é essa grande estrutura de poder econômico-social:

A patologia dos seres humanos mais doentes criou a estrutura social injusta e desumana, que é uma sociopatologia, e esta é a sociedade em que vivemos que, por sua vez, obriga a todos os que nascem a se encaixar em tal situação, totalmente irregular e doentia. Assim sendo, o homem não tem o conhecimento de como seria uma sociedade diferente; geralmente nem tempo tem para melhorar sua cultura; é mergulhado no jogo de interesses dos poderosos e permanece alijado da verdadeira existência — e o pior de tudo, sua vida transcorre em total alienação (inconscientização), com a perda de seus valores — um processo gradativo de endemoninhamento, pelo menos, como se entende, o que é ser demônio. (KEPPE, 1987, p. 116)

Portanto chegamos a um primeira conclusão: que nossa sociedade está doente há muito tempo porque nós seres humanos em peso, inclusive influenciados também por seres de outra dimensão, estamos no caminho da corrupção, não só a financeira (que é apenas “ponta do iceberg”, como se diz), mas da própria essência para a qual fomos criados. Porque esta sociedade está organizada para ganhar dinheiro apenas (o lucro pelo lucro), para corrupção política (tirar vantagem, aumentar e manter o poder), corrupção em geral do conhecimento (deturpando e manipulando informações e a ciência). Desta forma, uma sociedade que não é organizada para viver o bem, para viver a razão, para viver a estética, a ética, é uma sociedade que está caminhando para o fim. A atitude e escolha, ainda que inconsciente, de corromper, deturpar, de dar vazão ao seu ego, à sua vaidade faz com que o indivíduo queira fazer a sua própria vontade ao invés da vontade da FONTE CRIADORA. Viver e fazer o seu próprio reino ao invés de viver e fazer o Reino do TODO-PODEROSO. Esta atitude é, em última análise, doentia, demoníaca e não deveria existir.

E nosso amigo malabarista passarinho? Ele não deveria estar tomando água daquela maneira. Muito embora a natureza se adapte, mas se adaptar ao um meio tão antinatural, será que é o melhor para ele ou é o que ele pode fazer naquele momento? Como se diz: “ele se virou” (improvisou) dada a escassez de uma fonte de água mais adequada que, certamente, não foi ele quem fez.

Temos de falar também sobre aspectos de como o percebemos, em geral, a realidade. Isso é importante porque abordamos a pirâmide de Maslow e porque será apresentado um conceito fundamental: a inversão.

Três grandes marcos no Homo Sapiens são tidos como determinantes no processo evolutivo: o bipedalismo (capacidade de caminhar ereto) e encefalização (aumento cerebral) e o advento da linguagem. (Gerrig, Zimbardo, 2005). Talvez as emoções mesmo possam ter um componente genético. Com toda certeza é sabido que a liberação de endorfinas, geralmente classificadas como neuromoduladores, ajudam a promover uma alteração no comportamento do indivíduo (idem, Davidoff, 2006, e Mlodinow, 2012).

Devemos agora entrar um pouco no campo da neurociência. Descobriu-se no final do século XX que o cérebro tinha 3 principais aspectos:

  • Paul Maclean estudou que ele é biologicamente trino, pois possui um sistema reptiliano primitivo, um sistema intermediário límbico e um sistema mais recente chamado neocórtex;
  • Benjamin Libet percebeu que ele faz com que o ser humano tome decisões/escolhas inconscientes por sua forma de processar informações, não haveria aqui o livre-arbítrio, e
  • Giacomo Rizzolatti descobriu os neurônio-espelho, que de forma inconsciente faz com que imitemos ações observadas em outras pessoas, o exemplo de ver alguém bocejando que nos dá vontade é clássico e é explicado por este fenômeno

Fonte: SOARES, disponível em: http://fiscocidadania.com.br/posts/nehttp://fiscocidadania.com.br/posts/neurociencia-e-a-reproducao-in-vitro-de-mentes-doentes, acesso em 03-01-22)

Soares, explica da seguinte forma o funcionamento cerebral

O Cérebro Reptiliano/Instintivo/Social, cujo sistema de compensação é a sobrevivência ou a autopreservação (lutar/agir/ação ou fugir/correr/sobreviver). Um exemplo é o pai que é capaz de entrar na jaula do leão para salvar o filho que lá dentro se encontra, mesmo sabendo dos riscos que corre. O Cérebro do Mamífero/Emocional/Afetivo, cujo sistema de compensação é a satisfação, o prazer e o ganhar sempre. Ele é capaz de chorar quando vê um filme que causa comoção, ou seja, é o cérebro que não sabe distinguir a realidade da fantasia e sempre age emotivamente, em busca da satisfação. Pertence ao sistema límbico ou motivacional, ligado ao aprendizado ou reações endócrinas (engordar demais, dificuldade de aprendizagem, depressão...). Não aceita incongruências: ou está triste ou alegre; ou sente frio ou calor; ou está rindo ou está chorando...). O Cérebro Intelectual/Cognitivo, pertence ao sistema neocórtex, cujo sistema de compensação é fazer a crítica, reflexão, juízo ou os prós e os contras. Ele está sempre indagando: isso vale a pena? Isso é justo? É moral? É viável? Quais as consequências? Enfim, é o cérebro humano que raciocina, pensa e analisa. É o cérebro “chato”, que tenta controlar os outros dois, que são “irresponsáveis” ou “não-racionais”, ou sequer capazes de distinguir a realidade da fantasia. (idem)

Nosso cérebro, continua o autor, possui todo um sistema complexo que envolve mais de 100 bilhões de neurônios. Eles interagem entre si e formam verdadeiras redes neurais e conexões sinápticas, que geram reações eletroquímicas e neuroquímicas. Cada uma delas com suas funções específicas dentro de cada região cerebral

(fonte: ibidem)

O sistema nervoso central e periférico é o responsável pela captação e transformação dos estímulos a nossa volta, vindo dos sentidos, e o cérebro é responsável pelo processamento das informações. Basicamente o cérebro é divido em hemisfério direito e esquerdo, sendo unido pelo corpo caloso. Em geral o lado direito é mais responsável pela razão e lógica, ao passo que o esquerdo pelos sentimentos, emoções e a intuição (Davidoff, 2006). O sistema endócrino exerce um papel importante devido a liberação dos hormônios que podem afetar o comportamento. O hipotálamo é quem faz essa ligação entre ambos os sistemas para que sejam liberados os neurotransmissores (Huffman et al, 2003)

(fonte: https://netscandigital.com/blog/os-dois-lados-do-cerebro/ , acesso em 03-01-22)

Vários estudos da Economia Comportamental (ou Psicologia Econômica) têm mostrado a irracionalidade que há nas decisões tomadas e como os lados e regiões cerebrais são influenciados.

Como já dito, o ser humano é influenciado pelo mundo a sua volta e isso vai acarretar a forma como vai viver o próprio mundo (tomar decisões). Uma questão muito importante para entender tais decisões tomadas é a percepção, ou seja, como nós – seres humanos – percebemos a realidade. Assim, uma definição seria que ela é

“o ponto em que cognição e realidade encontram-se” e, talvez, “a atividade cognitiva mais básica da qual surgem todas as outras”. (apud NEISSER, 1976, p.9) Precisamos levar informações para a mente antes que possamos fazer alguma coisa com elas. A percepção é um processo complexo que depende tanto do meio ambiente como da pessoa que o percebe. (DAVIDOFF, 2006, p. 141)

O meio ambiente, as habilidade construtivas, a fisiologia e a experiência ajudam a formar a percepção. Huffman et al (2003) afirmam que além da percepção existe a sensação diferenciando uma da outra:

“Sensação e percepção estão intimamente relacionadas e são difíceis de separar, (...) sensação geralmente se refere ao processo de detectar e traduzir a informação sensorial bruta, enquanto a percepção se refere ao processo de selecionar, organizar e interpretar os dados sensoriais, transformando-os em representações mentais úteis do mundo. (op cit., 2003, p. 125)

Para ilustrar a definição citada podem ser usadas as imagens a seguir:

(fonte: adaptado de GERRIG, ZIMBARDO, 2005, p. 155, e RIBEIRO, 2002, p. 13)

Essas figuras num primeiro momento não parecem nada. Mas por incrível que possa parecer, elas ajudam a entender como vemos a realidade e como muitas vezes “demoramos” para entender o que se passa. Essas figuras, num primeiro momento, parecem ser diversas manchas escuras e claras, em preto, branco e cinza, sem muito sentido, mas com o passar do tempo de observação o “seu cérebro tentará organizar a fotografia em formas ou objetos reconhecíveis, como você faz quando olha para as nuvens em um dia de verão” (HUFFMAN, et al, 2003, p. 126).

Todos os autores de psicologia pesquisados para este estudo abordam algumas outras formas sobre como a percepção é afetada. Obviamente devido à delimitação da área de pesquisa, tais conceitos serão resumidamente tratados no referido campo de pesquisa.

As chamadas “miragens no deserto” são consideradas ilusões porque são falsas impressões do mundo físico produzidas por distorções físicas reais, mas também podem ocorrer por erros do processo perceptivo como as ilusões vertical-horizontal e Muller-Lyer:

( Fonte: adaptado de GERRIG ZIMBARDO, 2005, p. 157)

Nesse exemplo clássico, parece que a linha C-D é maior do que A-B, mas elas são do mesmo tamanho. Voltando ao exemplo anterior da imagem aparentemente sem sentido, onde só haviam manchas, vê-se que, ao olhar a figuras a seguir delineadas “indicando” o que elas estão mostrando fica mais fácil entender com percebemos através dos sentidos:

( Fonte: adaptado de GERRIG ZIMBARDO, 2005, p. 155 e Ribeiro, 2002, p. 14)

Gerrig, Zimbardo (2005) e Huffman (2003) mostram que existem detecções de padrões, onde é focado apenas um tipo de informação sensorial e esta pode condicionar a pessoa a agir e perceber de acordo com aquela maneira “ensinada” anteriormente; há também a habituação, onde nosso cérebro tende a ignorar os fatores ambientais que permanecem constantes focando, com isso, mais atenção no que muda à volta. Além desses, os fatores psicológicos intrapsíquicos na seleção e consequente tomada de decisão explicam também por que a pessoa pode se atentar a alguns estímulos e não a outros. Segundo todos os autores de Psicologia pesquisados, as motivações e as necessidades pessoais são dois desses fatores que influenciam. O que um indivíduo escolhe perceber é determinado em grande parte pelo nível atual de satisfação ou de privação. (Gerrig, Zimbardo, 2005). Um exemplo de que se uma pessoa que está com fome e assiste televisão é ideal para ilustrar que a probabilidade dessa mesma pessoa prestar mais atenção aos comerciais de comida é 24 maior do que ao de qualquer outro produto, mesmo que ela goste de um outro produto ou serviço (Huffman, 2003).

Davidoff (2006) salienta, com um exemplo comum a todos, de dirigir indo de um lugar a outro sem lembrar depois do trajeto que fez, mesmo reconhecendo os cruzamentos, ruas etc, como se um piloto automático estivesse ligado: “...as pessoas frequentemente percebem sem atentar ou tomar consciência” (Davidoff, 2006, p. 145). Mlodinow (2012) fala que existe um novo inconsciente, onde as informações mais sutis e em maior quantidade são processadas enquanto nos encarregamos de processar as informações mais importantes para aquele acontecimento em que estamos focados, no entanto numa quantidade menor do que as informações mais sutis.

Obviamente a informação captada é processada pelo cérebro para que haja uma interpretação de tudo aquilo. Uma pessoa que não teve a devida instrução ou nunca tomou consciência sobre um fato, como ele é, do que é feito, entre outras coisas, dificilmente perceberá como age em suas atitudes e, consequente, decisões. Estudos realizados por A. R. Luria nos anos 1970, por exemplo, sobre a percepção (e interpretação) de como as impressões sensoriais são organizadas no cérebro mostraram que

...as leis de organização perceptiva da Gestalt 12 são válidas para as pessoas que têm uma escolarização que inclui os conceitos geométricos, mas não se aplicam a pessoas sem educação formal que percebem as formas de maneira objeto-formal e que classificam as formas de acordo com os objetos que parecem representar (HUFFMAN, et al 2003, p.131)

Dessa forma, uma pessoa pode tomar uma decisão com base no que interpretou da realidade segundo as informações que aprendeu ou consegue interpretar. Salienta a autora que:

Após selecionar a informação sensorial que chega e organizá-la em padrões, o cérebro usa essa informação para explicar e formar juízos sobre o mundo externo. Esse estágio final da percepção – a interpretação – é influenciado por diversos fatores, incluindo experiências precoces, expectativas perceptivas, fatores culturais, motivações pessoais e padrões de referência. (idem, p. 142)

Podem haver distúrbios e as pessoas podem sofrer de doenças psicológicas ou problemas emocionais por conta de fatores hormonais e neurotransmissores (Medeiros, 2009). Além dos hormonais, muitos outros fatores emocionais, como ansiedades podem contribuir para a patologia, como a compulsão por compras (idem). Alguns desses sintomas estão ligados também a fatores sociais e culturais:

Numa sociedade que estimula o máximo consumo e a satisfação do prazer imediato, a compulsão por compras não é notada tão prontamente pela família, diferente do que ocorre com de outras dependências, como o abuso de drogas. Por isso, quem sofre do transtorno leva muitos anos para reconhecer o caráter patológico do seu comportamento. Mas quando isso acontece, a pessoa sente vergonha por não vencer a batalha contra o impulso – e, assim, o transtorno pode ser mantido em segredo por anos a fio. (MEDEIROS, 2009)

Segundo Keppe (2002), a pessoa na verdade mantém em segredo sua patologia, não por vergonha, mas sim pela inveja e censura que tem de si mesma e dos outros. Obviamente, sem perceber, age de forma inconsciente e consequentemente prejudica-se a si mesma. Num sentido mais geral prejudica a todos, pois o sistema atual de maximização de lucros nos agentes econômicos (firmas) visa, em última análise, uma maior participação no marketing share e isso se dá normalmente com mais pessoas consumindo seus produtos/serviços.

Questões relacionadas ao poder e à imagem própria, como o narcisismo, são estimulados mais ainda pela sociedade de consumo.

Nossa organização social nos ensina que para ser poderoso é preciso possuir objetos. O desejo de posse pode ser uma forma de compensar sensações de inferioridade que vivemos na infância diante dos adultos. Parte daí a vontade de mostrar, mais tarde, que somos fortes. E essa busca é realimentada pela cultura: afinal de contas, a carência dá lucro. [...] As pessoas recorrem ao consumo exagerado para que possam exibir uma imagem narcísica, que tem por objetivo o preenchimento do vazio com objetos. A compulsão se baseia numa lógica social que supervaloriza o ter em detrimento do ser. (MEDEIROS, 2009)

O indivíduo acaba ficando mais suscetível ao consumo incontrolável à medida que projeta ideais de perfeição nos ídolos idealizados, fabricados pela indústria cultural, que suprem a carência afetiva (idem). O psicanalista Joel Birman argumenta no mesmo artigo que

Nossa cultura valoriza astros envolvidos em impressões estéticas e performáticas, o que aumenta a insegurança das pessoas sobre o que têm como potência. Isso deflagra uma sensação generalizada de desqualificação. Se não fôssemos bombardeados a cada instante pelo estrelismo alardeado pela mídia, estaríamos menos tomados pela compulsividade (ibidem)

Keppe (1987, 2002 e 2003) fala do poder patológico, afirmando que as doenças e compulsividades presentes nas pessoas e nos grandes empresários ocasionam uma deturpação da realidade. Ele é um

Desejo de ser maior do que os outros, de explorar aos outros; um "antipoder"; o desejo de impedir o verdadeiro poder de existir entre o povo. Motivados pela inveja, alguns indivíduos desejam dominar, controlar aos outros na sociedade como uma forma de saciar sua teomania (o desejo mal-intencionado de ser como Deus). A intenção de tais indivíduos é tirar a felicidade, a liberdade, o dinheiro e o bem-estar dos outros; não servir aos outros, mas ser servido por eles. O poder patológico é uma força arrogante utilizada para impedir a vida e a liberdade; traz somente destruição e doença aos poderosos e à sociedade (KEPPE, 1987, p. 282).

Dessa forma, a um nível microeconômico, quando uma pessoa quando apresenta um distúrbio de superendividamento ou compulsão por compras; ou ao nível macroeconômico, quando qualquer crise dentro do sistema econômico, seja sociaista ou capitalista, ocorre, todos estes acontecimentos estão intimamente ligados a esta patologia. Via de regra, ela não é percebida ou estudada como uma variável dentro dos modelos e pressupostos do maistream econômico. O quadro abaixo ilustra resumidamente o mecanismo de como 26 podem ocorrer as situações verificadas acima, estendendo também às doenças propriamente ditas:

(Fonte: PACHECO, 1994, p. 45)

Pacheco afirma:

Nos processos psicopatológicos (...) são mecanismos constantes, não raro de muitos anos, quando o indivíduo permanece numa atitude inconscientizada [grifo da autora] de raiva ou medo. A luta que empreendemos contra a consciência é tão forte que gastamos toda a nossa energia no sentido de tentar inutilmente destruí-la. A tensão gerada pela luta leva ao stress, que, por sua vez, comprovadamente, causa doenças, as mais variadas. (Pacheco, 1994, p. 46)

Vale citar que uma pessoa doente pode nutrir mais ainda sua doença, consumindo produtos ou realimentando todo um sistema patológico de vida através, por exemplo, da educação de seus filhos que por sua vez continuarão a encarar a realidade mais ou menos daquela maneira. O que acontece no corpo pode também se manifestar em atitudes e, consequentemente, em toda a sociedade, gerando doenças sociais (Keppe, 1987, Pacheco, 2008). Bastidas ajuda a entender um pouco mais a questão afirmando que:

...no que diz respeito aos apectos psicológicos do dinheiro, podemos verificar que muitas pessoas o associam a poder. Como numa “equação 35 matemática”, entendem que “ter dinheiro, é ter poder”. (...) [tais pessoas] costumam cerca-se de objetos de alto valo... que atestam seu poder de compra como donas dos objetos, para se imporem nas suas relações com os outros (...) isso revela um problema. Almoçar num restaurante caro seria uma atitude motivada para apreciar o sabor de uma boa refeição ou apenas para “parecer” aos outros uma pessoa poderosa? Talvez possa soar estranho, à primeira vista, mas parte das pessoas que possuem objetos de alto valor ou frequentam lugares caros não tem aquilo porque verdadeiramente querem aquilo, não estão ali porque verdadeiramente querem estar ali porque verdadeiramente 27 querem estar ali. Sem se darem conta, em sua busca por parecerem poderosas, tornaram-se escravas dos objetos que compraram ou dos lugares que “escolheram” frequentar. Em casos extremos, a associação de dinheiro com o poder interfere na personalidade, o valor atribuído ao próprio “ser”. A pessoa entende que tem valor para os outros à medida que tem dinheiro. Isso pode ter consequências desastrosas e tristes, como quando ocorreu a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929: alguns investidores que perderam todo os seu dinheiro realizaram... suicídio. (Bastidas, 2008, pp. 75, 76)

Em termos econômicos, tal pessoa que pensa e age como descrito na citação, pode não estar tomando a melhor atitude, ou seja, ela está agindo contra sua própria natureza para a qual foi criada. Dado que a vida é o maior bem que uma pessoa pode possuir– afinal ela é única, pessoal, intransferível e insubstituível –, pode-se inferir que caso ela se escravize por algo ou tirá-la por achar que perdeu tudo ao perder o dinheiro, não deve estar, no mínimo, tomando uma atitude racional. Realmente tem algo errado e é uma patologia psíquica e social que também pode ser acompanhada de um componente espiritual.

Vamos fazer uma pequena pausa e falar do nosso amigo passarinho: ele não tem os “vícios”, por assim dizer, de querer comprar algo e ficar superendividado ou aferir lucros e acumular fortunas, escravizando-se com isso 13 . Mas sua essência fez com que ele tivesse que, de alguma forma, tomar água. Era uma necessidade biológica, inclusive remetendo ao primeiro degrau da pirâmide de Maslow.

Lhe foi imposto que tomasse água daquela forma naquela torneira? Parece que não. Mas certamente não tinha uma fonte mais de acordo com a natureza normal dele para que tomasse. O passarinho não estava em uma gaiola, logo, ele estava livre para tomar água onde desejasse. Desde que… houvesse água! Houve um período de seca naquela região? Não sabemos, mas um passarinho não aprende de repente a tomar água invertido daquele jeito. Ele teve que se adaptar, teve que fazer algumas escolhas que antes não precisava fazer. Teve de se adaptar a um ambiente diferente do que era natural para si. Foi escolha livre dele ou foi uma questão de sobrevivência? Quais os impactos que esta forma de viver do passarinho tem para todas as demais inter relações complexas na sociedade de aves?

Se ele teve de se adaptar a tomar água daquela maneira, gastou energia com isso e, por conseguinte, não teve como buscar novas formas normais (de acordo com sua essência de ave) de tomar água. 14

TOMADA DE DECISÃO

Para entender a tomada de decisão dos agentes econômicos, é necessário também observar que o ser humano não é necessariamente livre, tampouco saudável e suas decisões normalmente vão estar pautadas em coisas aprendidas e internalizadas antes. Todos os seres humanos estão inseridos em maior ou menor grau dentro de um sistema econômico que molda as pessoas e ainda se expande e ganha mais força. Todos são, em maior ou menor grau, influenciados pelo mesmo sistema, sendo que este sistema pode não estar de acordo com a natureza humana:

“Capitalismo” é o nome que se dá a um a organização social extremamente adaptativa que o homem descobriu ao longo do seu caminho desde que algumas famílias, tocadas pela falta de alimentos, deixaram a África há 200.000 anos. Chegou-se a ela pela seleção histórica dentre as inúmeras formas de organização percorridas pela humanidade na sua procura de uma que permitisse acomodar, simultaneamente, a eficácia produtiva e a liberdade individual. Ela tem quatro características: 1) não é plenamente satisfatória porque, quando deixada a si mesma, o nível de atividade (o nível de produção e do emprego) não é estável; 2) sendo um mecanismo que explora fortemente a competição, tende a acentuar a desigualdade entre os homens; 3) não é natural, isto é, não tem nada a ver com a “natureza humana” (seja lá o que isso for) e 4) felizmente não é eterna. É, portanto, passível de aperfeiçoamento. (AKERLOF, SHILLER, 2010)

Também salienta Keppe da seguinte forma:

o povo, até hoje, foi totalmente escravo dos poderosos; diretamente, através da escravidão, ou indiretamente, por meio dos regimes sociais, que vigoram desde a criação da sociedade. Seja o governo imperial, o feudal, o burguês, o capitalista, e o marxista, a humanidade está sempre a serviço dos poderes econômicos e políticos — nunca o povo serviu a seus próprios interesses; o que equivale dizer que jamais o ser humano foi livre.(...) o errado é o sistema anti-humano, ou melhor, invertido que os poderosos usam para servir só à patologia de alguns, que adquiriram poder social, seja pelo dinheiro, pela família, pelo sangue, pela raça, ou pela nacionalidade. (KEPPE, 1987, p. 13)

Marx e Engels (2003) disseram algo parecido no Manifesto Comunista de 1847, onde sempre houve uma luta de classes no decorrer da história escrita da sociedade, de modo que uns dominavam sobre os outros explorando-os.

Como existem limitações e todo um sistema desigual no qual todos são criados, e que foi sendo construído ao longo de séculos, impondo formas de domínio e exploração por parte de uma minoria, qualquer pessoa que queira ter alguma coisa na vida, por mais que tente tomar a melhor decisão, sempre sentirá falta de algo.Ferreira (2008), enfatiza que não existem situações plenamente satisfatórias, de modo que a pessoa pode (ou não) tolerar obter apenas uma fração do que quer abrindo mão, por conseguinte, do que não consegue obter. Assim o indivíduo deve, necessariamente, escolher sempre entre realizar-se (apenas) um pouco ou realizar-se (apenas) um pouco mais. Ele faz um trade-off, portanto. Para isso ele utiliza alguns “atalhos mentais” (heurísticas), que, entretanto, podem enganá-lo. Essas decisões são embasadas no princípio da pessoa querer obter o prazer e evitar a dor (ou o desprazer). E em muitos casos, deseja ter o prazer imediato sem perceber o que de fato está fazendo.

Não obstante existe algo mais além dessas questões comportamentais de escolha. Não é só o comportamento ou a decisão da pessoa que é irracional, mas o porquê que ela tomou tal decisão mostra sua irracionalidade. Esse porquê advém do interior de cada um alimentado em boa medida pela sociedade (Keppe, 1987, 2002). Assim, esta investigação pressupõe que o ser humano nasce imperfeito e invertido, no sentido de não ver e não querer sentir seus sentimentos de culpa (ou mesmo outros sentimentos), advindos de uma 29 série de fatores e decisões erradas tomadas ao longo de sua vida. Pacheco (2008) fala que, ao contrário do que deveria ser, (ou seja, deveríamos falar, ver e sentir nossos erros), a pessoa diz não à consciência dos erros e essa censura

é formada pela teomania do próprio indivíduo, mas é reforçada principalmente pelo ambiente, através de pais, professores e sociedade censuradores e intolerantes que não aceitam trabalhar com os erros. Os sentimentos de culpa, não sentidos, não se dissolvem; eles podem ficar inconscientizados, mas estão ativos no interior da pessoa, exigindo uma reparação. Caso isso não aconteça, o indivíduo pode ser levado a “reparar” suas culpas de uma maneira irracional e inconscientizada, provocando punições a si mesmo ou a terceiros. (op cit. p. 60)

Ferreira (2008), focando mais a questão do componente emocional, ao ter que lidar com os princípios de prazer e desprazer, salienta que

o modo como se lida com as emoções resultantes da experiência do desprazer implicará profunda diferença nas decisões tomadas, incluindo-se as econômicas, com consequências igualmente díspares em termos de seus resultados concretos e psíquicos (op cit. p. 224).

Baseada em estudos de Damásio (2006), a autora cita, ainda, o fato de a Neurociência corroborar com a utilização da percepção das emoções:

o conhecimento de como as emoções operam pode aumentar o poder de decisão das pessoas, já que as áreas que as desencadeiam estão no cérebro, e mudanças no sistema nervoso central promovem efeitos na cognição, memória e outras funções mentais” (Ferreira, 2008, p. 225).

Vale lembrar o aspecto biológico de que nosso cérebro tem cerca de um quilo e meio e, muito embora não se saiba ainda ao certo como ele cumpra todas as funções, é responsável pelo controle dos comportamentos e os processos mentais (Gerrig, Zimbardo, 2005). Neurotransmissores, como a serotonina, responsável por regular os estados de humor e do sono, quando estão em baixa quantidade no cérebro, fazem com que as pessoas tenham uma maior propensão à impulsividade. Algo análogo em ralação à dopamina, relacionada à dependência de substâncias e comportamentos compulsivos, também acontece:

Alguns autores do estudo propõem a existência de um mecanismo de dependência desencadeado pela diminuição de dopamina, que provoca a chamada síndrome de deficiência da recompensa e indica que algumas pessoas têm mais risco de desenvolver dependência, está envolvida nos transtornos do controle dos impulsos. Vários pacientes examinados apresentavam comportamento repetitivo de busca de recompensa, como compulsão por jogo, sexo, comida e compras. Esse comportamento estaria relacionado com a degradação das células neurais que captam a substância, em função da doença e do tratamento. (MEDEIROS, 2009)

Ainda que o ambiente desse todos os meios para produção ilimitada, em determinado momento haveria escassez de algum recurso ou meio de produção, por exemplo de estar em um lugar ou outro. Nesse ponto, pelo que se pode ver historicamente, as tribos indígenas sabem lidar com a natureza muito melhor do que a maioria dos governos e 30 empresários souberam ao longo da história, visto que elas de certa forma intuitiva e cultural sabiam os limites do ambiente e da economia na qual viviam.

Então, formas de ocupação irregular do solo, extração desenfreada de recursos naturais, entre outros fatores, como aumento populacional produzem a escassez e acabam por reduzir o bem-estar de muitas pessoas. No entanto, existe algo que é anterior a tudo isso, algo que fez e faz com que os seres humanos aprendessem a sobreviver ao longo do tempo na escassez. Alguns autores entendem que a essência do problema está naquilo que Keppe (1987) chamou de inveja . Assim, o indivíduo “para ser aceito, admirado e incentivado pela grande sociedade, terá de ser desonesto, mentiroso e acima de tudo hipócrita (op cit., p. 9). Esse processo seria a regra geral, com exceções, salienta o autor, mas ocorre em todo o mundo. É como se houvesse uma megalomania, uma espécie de “sonho” de alcançar o poder, “se dar bem” e mandar ao invés de ser mandado. Chegar ao poder, salienta ainda, pode ser um sintoma de doença – a patologia do poder – manifestada na sociedade que esconde más intenções:

a situação atual do mundo incentiva a maior parte dos indivíduos para o campo econômico-financeiro , porque é ele que oferece o maior poder – o que equivale dizer que é o que mais enlouquece, por aumentar a teomania, megalomania e narcisismo. (Keppe, 2003, p. 56)

Vele destacar e conceituar o conceito de inveja proposto por Norberto Keppe, como sendo um “descontentamento e má vontade com relação à felicidade, vantagens, posses, beleza, bondade, etc., de outros. Do latim invidere, significa “não querer ver” o bem estar dos outros.” (op cit. p. 281)

Tal questão, chamada por Keppe (1987) de psicossociopatologia, (doença mental associada com a social), está também dentro dessa discussão acadêmica e vale lembrar, como dito na introdução (Laville e Dionne, 1999), que o homem construiu por si mesmo os sistemas e teorias para explicar o mundo. Entretanto,

por trás de cada teoria, de cada sistema, é mister se levar em conta a psicopatologia do(s) indivíduo(s) que o elaborou, pois ele será o reflexo de seu autor. Por isso, o cientista deve ser trilógico, ou seja, ele próprio deve estar ciente de sua psicopatologia para que ela não atrapalhe a sua obra. (Pacheco, 2008, p. 18)

Seria preciso perceber os erros sociais e psíquicos dos referidos autores que formularam as teorias e influenciam o mundo. É difícil encontrar uma metodologia que propõe a visão dos erros dos autores e do próprio pesquisador. Talvez, esta seja uma forma única de se fazer ciência e não é possível num trabalho limitado como este entrar nesse mérito. Este trabalho, como exposto, limita-se a investigar certas anomalias verificadas no axioma da racionalidade econômica.

Rossetti (2009), referindo-se a Keneth Boulding, mostra que a economia está também relacionada com outros campos das ciências existentes, inclusive indo muito além, com concepções sobre a ética e a religião, por exemplo. Por não estar isolada das demais ciências, ela talvez seja a que mais precise das demais ciências para conseguir tentar 31 explicar ou quantificar um fenômeno observável, inclusive questões éticas, ou em outras palavras, ideologias.

Pacheco (2008) afirma que a Ciência deve ser pautada pela visão universal do conhecimento e sua fragmentação em “pedaços” científicos é uma das causadoras da

esquizofrenia existente no interior dos seres humanos, projetada na vida social, que divide tudo: pais e filhos, homens e mulheres, patrões e empregados, o governo e o povo, as classes sociais etc. Nascemos como seres unificados, e assim devemos ser tratados. Portanto, teria de haver uma ciência integral, também unificada, que tratasse o ser humano e sua vida de maneira total. (Pacheco, 2008, p. 14)

Portanto, a sociedade hoje está doente e fragmentada inclusive no conhecimento. Isso ocorreu devido à construção imposta por autores e sociedades de forma a subjugar e explorar boa parte dos indivíduos para beneficiar um grupo pequeno. É óbvio concluir que quem se beneficia dessa construção são seus autores em detrimento dos demais. A escassez gerou um mundo ruim de se viver, onde permeiam a desigualdade, a maldade, a violência, guerras, exploração, fome, entre outros problemas.

Tais problemas também refletem o que está dentro do ser humano e é causada, portanto, por essa doença presente em cada um e as anomalias verificadas tanto nas crises, como na irracionalidade dos agentes. Tais problemas podem ter uma raiz comum na atitude invejosa do ser humano de negar, omitir e deturpar a realidade, em suma: que pretende criar sua própria realidade como se ele passasse a ser o autor da verdade, como se fosse um tipo de deus. Essa, talvez seja a “fração geratriz” do problema. Ferreira (2008), por exemplo, mostra que a pessoa pode criar uma realidade própria dela mesma (mas que não é real na prática) com o intuito de diminuir a tensão existente dentro de si. A mente, salienta, visa o prazer e evita o desprazer:

... a mente busca satisfação imediata, mesmo incorrendo em situações de risco, pois expõe o indivíduo a medidas precipitadas e, em grande parte das vezes, inconsistentes no que diz respeito a obter prazer verdadeiro e duradouro, no caso do princípio da realidade... a psique procura reduzir aquela tensão por meio de alterações significativas da realidade... a repressão, que tentaria segregar do âmbito da consciência tudo aquilo que poderia provocar desprazer, incluindo aí percepções que não correspondessem ao esperado ou desejado. A fim de buscar prazer, recorre-se, se necessário – e, frequentemente, é necessário, já que a realidade é o que é, e não costuma ser a realização de nossos desejos – a ilusões ou satisfações alucinatórias, no sentido daquilo que não “confere” com a realidade [criada por ele mesmo]... [dada a] impossibilidade de esperar, a mente busca refúgio no conforto que lhe pareça mais à mão – ainda que não seja verdadeiro –, o que explicaria nossa considerável vulnerabilidade às ilusões e também às distorções de percepção e julgamento ... Tudo que agrada tem muito mais chance de ser considerado real, ao passo que tudo que traz desconforto será facilmente ignorado [tirado da consciência] (op cit, pp. 210, 211, grifos da autora)

Ritsko (2010, apud Thaler) verificou que “o desejo de uma recompensa rápida elimina o interesse próprio racional. Há algo chamado Influência do Presente. Se houver a opção de termos algo neste momento, a tentação de aceitar é grande.”

Parece um pouco evidente que a imensa maioria das pessoas que influenciaram o mundo com suas ideias e atitudes não tinham consciência desse fato. Portanto considerar essa variável patológica na ciência, e evidentemente na Economia, permite ir mais além do que os modelos tradicionais pressupõem e concomitantemente pode ajudar e entender, pelo menos em parte, a irracionalidade dos agentes.

Há um ditado popular que afirma: “quanto mais se tem, mais se quer”. Ou seja quanto mais capital (ativos em geral) a pessoa passa a ter, mais e mais ela passa a querer, de modo que em muitos casos, não haveria limite para tal crescimento. Tal ideia está no centro do pensamento capitalista, especialmente dos grandes capitalistas (Keppe, 1987, 2003). A respeito disso, Carneiro (2012), referindo-se a Gustavo Cerbasi, destaca que há um “conflito interno que vive em todo ser humano que produz: trabalhar ou enriquecer?” e questiona “se seria por altruísmo ou caridade que dedicamos nove, dez ou mais horas por dia para, simplesmente, enriquecer os donos ou acionistas da empresa para a qual trabalhamos” (idem). Ele resume bem o principal meio de enriquecimento capitalista e que corrobora com o ditado acima citando Cerbasi:

Quem tem riqueza põe essa riqueza para trabalhar e multiplicar seu capital, convidando aqueles que não têm capital para ajudá-lo nesse objetivo de multiplicar riquezas. Em troca, oferece parte da riqueza gerada, na forma de salário. É a mais franca tradução do que é o capitalismo. (Careiro, apud Cerbasi, 2012 Karl Marx (1996) fez uma profunda análise desse fenômeno, chamando-o de “mais-valia” e entendeu que além da divisão entre capital e trabalho, havia sobretudo uma apropriação por parte do capitalista de salários não pagos aos trabalhadores, ao qual permitia-lhe enriquecer à custa de uma produção não feita por ele e isso degradava a existência dos trabalhadores:

quanto mais elevada a força produtiva do trabalho, tanto maior a pressão do trabalhador sobre seus meios de ocupação e tanto mais precária, portanto, sua condição de existência: venda da própria força para multiplicar a riqueza alheia ou para a autovalorização do capital. (Marx, 1996, p. 263)

Keppe (1987, p. 16) chama-o de agressão (dos poderosos) e escravidão (do povo). Porém, além disso, ele verificou que existem componentes não analisados com veracidade e profundidade ou compreendidos de forma errada pelos pensadores, incluindo o próprio Marx. Ele entende que é a atitude do ser humano em negar, omitir 42 ou deturpar a realidade, por conta da inveja e cobiça que causam, de fato, os problemas sociais existentes no mundo.

Como visto, a sociedade é formada por pessoas. Muitas delas são doentes e adoecem mais ainda devido a toda uma cultura de consumo e poder. E quando se pensa em poderes constituídos, em sociedades, em leis e em políticas públicas de determinado país para com sua população, deve-se ter em mente que essas decisões são embasadas na racionalidade econômica. Elas deveriam alocar recursos escassos à população e promover um maior bem estar a todos. Entretanto, os fazedores de políticas públicas e econômicas não estão no poder por acaso.

Comumente se entende que em países democráticos eles foram eleitos por sua população direta ou indiretamente. Já em países com regimes autoritários, via de regra, eles se 33 colocaram lá. No entanto, se for olhado pela ótica dos componentes psicológicos e sociais expostos, eles na verdade chegaram lá para permanecer e expandir o poder, reforçando, em muitos casos, a patologia social do poder. Os governos, nesse sentido, tendem a tomar decisões cada vez mais doentes, menos racionais, só percebidas mais tarde. Um argumento favorável para esta hipótese, por exemplo, é o fato de muito Estados do Primeiro Mundo estarem com um nível de endividamento público e desemprego enorme hoje, que não tem condições de continuar com um nível de crescimento econômico sustentável, nem de dar qualidade de vida (bem estar) à suas populações.

Akerlof e Shiller (2010), corroborando com a tese da patologia, argumentam que isso é provocado em grande parte pela confiança que existe nos métodos criados para gestão econômica e incentivado pela crença do público em geral e apatia dos reguladores. Rossetti (1999) mostra a questão da escolha de determinadas políticas e como isso orienta e se entrelaça com as estruturas do poder vigente:

A escolha dos fins e meios da política econômica sofre a influência das instituições políticas e dos paradigmas ideológicos em que se fundamentam as políticas públicas das nações. Para diferentes concepções ideológicas e estruturas políticas de poder, fixam-se diferentes objetivos de política econômica ou, pelo menos, se hierarquizam os objetivos sob critérios diferentes. (op cit., p. 73)

Assim o autor apresenta um quadro bastante elucidativo sobre a estrutura do poder de uma nação:

Fonte: adaptado de ROSSETI, 2009, p. 75

As decisões a nível macroeconômico partem de níveis microeconômicos anteriores (Pindyck, Rubinfeld, 2006). Muitas empresas tem suma importância na economia e sociedade, seja num país, seja no mundo. Grandes multinacionais podem fazer com que toda uma região se desenvolva se um grande projeto, gerador de empregos, renda e desenvolvimento acontecer ou, ao contrario, a região/país pode sofrer impactos ambientais 34 gravíssimos se não houver uma fiscalização e regulamentação em cima (Achbar, 2002, Moore, 2009, e Fergusonf, 2010). Como elas visam maximizar seus lucros (Variam, 2006), fatalmente as decisões de investimento e alocação dos recursos escassos passarão pelo crivo da racionalidade ao se perguntarem se compensa economicamente investir em determinado projeto, ou em outras palavras, elas averiguem se é possível maximizar os lucros mais ainda com aquele projeto ou política organizacional.

Como tem sido visto, a variável da patologia do poder é, em parte, impulsionada pelas grandes empresas psicóticas e seus indivíduos em conluio com os governos e mesmo das universidades (Achbar, 2002, Fergusonf, 2010). Nesse tocante, Pacheco (2008) é enfática: “por trás das estruturas sociais, políticas e econômicas, de todas as leis, que o povo tanto respeita e admira, existe uma grande doença, repleta de más intenções, inveja, desejo de poder, exploração e manipulação” (op cit., p. 18) 44 Keppe (1987) mostra dois esquemas que esclarecem como e porquê, resumidamente, ocorrem os problemas socioeconômicos:

Já vimos como a conduta ruim da pessoa é influenciada e influencia ao mesmo tempo a sociedade má.Pode-se perceber que uma pessoa cultuará seus valores, crenças, desejos, doenças ou mesmo coisas boas de acordo com esses fatores externo e interno e, fatalmente, essas pessoas irão influenciar o meio em que vivem bem como a posteridade. Se as pessoas estão trabalhando, consumindo, influenciando e sendo influenciadas pelas empresas e instituições maléficas, falta essa variável ser incluída nas tomadas de decisões dos agentes.

Consonante a este pensamento, Souza (2006) afirma algo bastante elucidativo sobre como a Economia foi formada para afirmar e submeter um domínio europeu aos demais povos com conceitos até hoje plenamente aceitos:

A Economia Política, que tem por pretensão a universalidade que o status de Ciência pode lhe conferir, não deixa de estar sujeita a todos os problemas advindos de sua construção histórica, qual seja, de ser estruturada de acordo com os interesses sociais e objetivando a resolver problemas específicos do meio que lhe deu vida, no caso o capitalismo europeu. Conceitos como individualismo, acumulação, abstinência, racionalidade, eficiência, eficácia, lucro, vantagem comparativa, etc não podem ser estendidos a todos os povos do planeta como se fossem efetivamente universais. Não obstante, à medida que a sociedade européia, através do uso da força, conseguiu submeter os demais povos do mundo, sua ideologia, mercadorias e objetivos de acumulação foram transformados em coisas naturais e universais. (Souza, 2006, p. 15, grifos do autor)

Não é por terem sido transformados em naturais e universais que de fato eles o são. Aplicando o conceito exposto antes de Ferreira (2008) e Keppe (1987) sobre a construção de uma suposta realidade, para dar mais “conforto” à mente, incentivando a patologia do poder, pode-se argumentar a favor de tal ideia que essas ideologias talvez foram criadas para poder querer tirar do campo da consciência toda uma série de sentimentos e mazelas não percebidas: culpas, raivas, invejas, entre outros.

Talvez essas ideias expostas na citação sejam comuns ainda hoje sob a ótica da empresa maximizadora de lucros, que explora seus trabalhadores, agride o meio ambiente e causa distúrbios econômicos, inclusive ao consumidor (Achbar, 2002 e Dannoritzer, 2010). Da mesma forma, pode-se dizer que não é pelo fato de o mainstream econômico dizer que a 35 verdade é essa e tentar provar isso com cálculos e com modelos matemático-racionais e otimizadores que isso encerra a questão na 46 Economia, que de fato eles o são na prática (Ritsko, 2010, Ariely, 2008 (a), Akerlof, Shiller, 2009, Moore, 2009). Cabe alguns esclarecimentos que Pacheco aponta:

...não é possível um indivíduo ser são, se é criado em família e sociedade tão patológicas que o influenciam desde o nascimento, “deformando-o” definitivamente no processo de “educação” e “socialização”. (...) desde a mais tenra infância, o indivíduo aprende e internaliza os valores da sua família, escola e da sociedade em que vive e percebe que, caso não se adapte a eles, sofrerá as mais diversas formas de punição – desde a verbal, a afetiva, moral, econômica, social, até a corporal. De tal forma esse processo de socialização é eficaz que o controle social é internalizado e a pessoa cria um mecanismo de autocontrole, que dispensa o social. Isto é, cada ação é prejulgada por esse sistema regulador interno e o indivíduo só adotará formas de comportamento que são aceitáveis e apreciadas pelo meio em que vive, ao passo que as atitudes e comportamentos que despertarem reações negativas, de punição ou de indiferença, serão automaticamente evitadas pelo indivíduo, com antecedência. (Pacheco, 2008, pp. 19, 20)

Assim, uma cultura imposta propõe valores e regras sociais de acordo com seus interesses que foram sendo moldados ao longo do tempo por um grupo de pessoas e não de acordo com o que poderia ser verdadeiro ou que viesse a beneficiar a todos. A escravidão, por exemplo, hoje abominável, era considerada uma prática normal e moralmente aceita, salvo exceções, inclusive eram considerados fatores de produção (Feijó, 2007, Rezende, 2010, Brue, 2013, Huberman, 1986 e Heilbroner, Milberg, 2008).

Que tipo de mentalidade para a vida teria uma pessoa nascida escrava? Hoje ainda se discute questões de desigualdade entre cor de pele em decorrência de uma forma brutal de exploração e divisão humana. Pode-se dizer nesse sentido que o valor do ser humano como um ser humano era outro. Huberman (1986, p. 128), por exemplo, afirma que em 1934 crianças de dois ou três anos chegavam a trabalhar nas fábricas americanas de Connecticut.

Como um sistema econômico extremamente explorador e doente, formulado e incentivado por pessoas igualmente exploradoras e doentes, poderia formular ideias boas e corretas e promover o bem-estar no mundo sem gerar desigualdades e todas a mazelas que existem? Como um indivíduo pode maximizar sua utilidade se ele é forçado a tomar suas decisões de acordo com interesses de uma minoria? Uma pessoa nascida nas péssimas condições de subsistência, na maioria dos casos, não tinha – e hoje não tem – nem se quer chance de poder perceber suas escolhas.

O grau da doença psicossocial talvez possa ser mostrado em pelo menos dois questionamentos:

  1. Nos tempos em que havia a escravidão “declarada”, que escolha um escravo faria a não ser obedecer ao seu senhor?
  2. Hoje em dia, por exemplo, que escolha tem um trabalhador em situação de vulnerabilidade social obrigado a trabalhar 14 horas por dia, trancado em um fábrica 36 com grades de ferro produzindo produtos de uso tão comum, como celulares, senão trabalhar muito para apenas sobreviver mais um dia?

Por isso pode ser passível de questionamento, aliado à uma notável averiguação das anomalias verificadas na economia, o pressuposto da racionalidade. O que se verifica são decisões não-racionais ou embasadas numa racionalidade de acordo com certos interesses. Segundo as fontes pesquisadas para esta pesquisa, elas apontam que a maximização dos lucros e o aumento do bem estar não eram (e não são) para todos, mas sim para alguns. Heilbroner e Milberg, por exemplo, atestam que:

...não foi de forma alguma “natural” e “normal” existir trabalho contratual livre e assalariado, ou uma terra rentável e lucrativa, ou ainda capital líquido em busca de investimento. Essas foram criações da grande transformação de uma sociedade pré-mercado numa sociedade de mercado [...] cada pessoa é dona de si mesma. Um trabalhador [...] é dono do próprio trabalho, que ele está livre para vender da forma mais vantajosa possível [...] O empregador compra o trabalho de seus empregados [...] e ainda ganha uma vantagem econômica única [...] tem o direito a todo o resultado produzido por “seus” trabalhadores... homens e mulheres desistem de todas as reivindicações dos resultados que criarão enquanto fizerem o respectivo trabalho. Trabalho pago (ou assalariado) é algo tão normal na sociedade moderna que sempre surpreende qualquer reflexão sobre o curioso acerto em que a força de trabalho é vendida sem quaisquer direitos de propriedade sobre seu produto. (Heilbroner, Milberg, 2008, pp 68, 69

Souza (2006) afirma também que, devido à construção histórica feita do maistream, o que vemos e vivemos hoje em dia pode não estar de acordo com a realidade:

Em formações sociais nas quais existem interesses antagônicos, cada classe social formula suas ideias, visões de mundo, preconceitos e acepções. Mais que uma visão da realidade, esta vem a ser uma posição de defesa e afirmação dos interesses. É provável que as ideias da maioria das pessoas tendam a exaltar os interesses e ações das classes, que estão em condições favoráveis para se impor sobre as demais. É provável, portanto, que reflitam implícita ou explicitamente uma interpretação dessas, que esteja em desacordo com a realidade, mas em perfeito acordo com seus interesses. Há um imperativo deste último sobre a anterior. A isso se chama ideologia. (Souza, 2006, p. 15)

E essa ideologia que visa promover aos interesses de alguns e que influencia os agentes, é, pelo exposto até aqui, no mínimo, passível de crítica ao que Cláudia Pacheco faz:

...grande parte das regras, prêmios e proibições foi instituída para servir a um esquema socio-econômico de corrupção, então poderemos chamar esse processo não mais de socialização, mas de “lavagem cerebral”, ou de mecanismo social de patologização. Nas sociedades humanas, somente um grupo de indivíduos detentores do poder estabelece regras e leis econômico-sociais, a fim de conservarem esse poder e oprimir e restringir a liberdade dos demais seres humanos, e cada indivíduo é gradativamente corrompido, à medida em que se “adapta” à estrutura social. O indivíduo é ensinado a mentir, desconfiar de tudo ou de todos, a ser desonesto, a odiar o trabalho para “sobreviver” nesta sociedade. (Pacheco, 2008, p. 19)

Em suas investigações, Moore (2009), Achbar (2002), Ferguson (2010) chegam a conclusões parecidas. Leonard (2009) e. principalmente Dannoritzer (2010), chegam a 37 firmar a existência de uma estratégia de marketing, aliada à engenharia de produção mercadológica, que, através de produtos menos duráveis, feitos intencionalmente pelas empresas para venderem mais, seria a

obsolecência programada, o motor secreto da nossa sociedade de consumo. O nosso papel parece limitar-se a pedir empréstimos e comprar coisas que não necessitamos. Nossa sociedade está dominada por uma economia de crescimento cuja lógica não é crescer para satisfazer as necessidades, mas crescer por crescer. Se as pessoas não compram, a economia não cresce. Obsolecência programada, o desejo do consumidor de possuir algo um pouco mais novo, um pouco antes do necessário. (op cit.)

O documentário do autor acima defende a tese de que a partir dos anos 1920 toda a sociedade, especialmente o mundo ocidental capitalista e nos últimos 20 anos a parte ex-comunista, começaram a consumir produtos fabricados com uma vida útil cada vez menor dos produtos e isso aumentou muito o lucro das empresas, fazendo com que ela crescesse muito ao longo do último século. A sociedade de consumo americana dos anos 1950, o american way of life, em que o consumo ilimitado era sinal de felicidade, “lançou as bases da sociedade de consumo atual” (idem). Como exemplo cita o fato de 49 uma aula de Desenho de Engenharia de Produtos, onde o professor Boris Skinov, dando aula de Ciclos de Vida do Produto, perguntou aos alunos de quanto em quanto tempo eles trocavam seu aparelho de celular. As respostas ficaram entre um ano a um ano e meio. E acrescenta:

[o professor] ensina os estudantes a desenhar para o mundo empresarial dominado por um único objetivo: compras frequentes e repetidas (...) “os designers devem entender para que empresa trabalham. Com o seu modelo de negócio a empresa, determina a frequência de renovação de seus produtos. Os designer recebem essa informação e devem desenhar o produto para que se encaixe perfeitamente com a estratégia de negocio do cliente.” A obsolecência programada está na raiz do considerável crescimento econômico que o mundo ocidental viveu a partir dos anos 1950. (ibidem, grifo nosso).

Ferguson (2010), ao tentar explicar os porquês da crise de 2008 mostrou, com diversos exemplos, como as teorias econômicas estavam ligadas também à questão do ensino, de modo que renomados professores de Economia das universidades americanas apoiavam a forma desenfreada com que a crise acontecia pois ganhavam muito dinheiro dando consultorias financeiras aos banqueiros e investidores de Wall Streat.

Em outro exemplo, Souza (2006), focando a construção dessa forma “natural” de vida moderna, descreve sobre os carregamentos de pau-brasil no século XVI onde:

De um lado havia o europeu (português ou francês), ávido por mais e mais toras de madeira e pelo lucro proporcionado pela sua comercialização; de outro, o indígena, perplexo por não conseguir compreender aquela lógica de trabalhar desenfreadamente para acumular coisas como se a natureza não fosse capaz de prover, às gerações vindouras, os bens necessários, à perpetuação da espécie. Ora, 50 o que é natural para o primeiro é insensatez para o segundo, e viceversa. (op cit, p. 16, grifos do autor)

Se hoje há uma escassez de recursos naturais, antes não havia. Note-se também que dessa ideologia e atitude começaram a proporcionar no Brasil a perda de uma imensa parte da cobertura original da Mata Atlântica. A escassez, portanto, vem dessas atitudes. Se foi racional maximizar o lucro (muito embora não houvesse esse tipo de discussão à época), a que preço isso foi feito? Se decidir por algo requer abrir mão de outra coisa, do que eles abriram mão? Aquelas atitudes à época e as atitudes das empresas hoje de fabricar produtos menos duráveis são, de fato, racionais?

O que a história mostra é uma ocupação irregular e desenfreada do solo e exterminação das matas nativas, eliminando, em decorrência disso, não só a natureza, mas os povos e culturas nativas brasileiras (assim como dos demais continentes). Sem dúvida para tudo isso foi necessário a utilização de mão-de-obra escrava ou servil, o que propiciou à África (por extensão Ásia e demais países latino-americanos) séculos de atraso socioeconômico, uma dilaceração das culturas e tribos em países, entre tantos outros males socioeconômicos.

Karl Marx (1996) verificou que existe o processo de mais-valia e este se dividia basicamente em duas etapas: uma primeira, onde ele trabalharia para ter o suficiente para viver, ao que David Ricardo chamou à sua maneira de “Lei férrea dos salários”, onde um trabalhador só deveria ganhar o suficiente para se manter de modo “a não permitir um aumento desenfreado do contingente de trabalhadores, nem a sua diminuição.” (SOUZA, 2006, p. 27). Uma segunda etapa da mais-valia seria aquela que de fato vai para o bolso do capitalista, sejam eles donos ou acionistas (Carneiro apud Cerbasi 2012).

Ao criar um valor que não tem trabalho correspondente, o capitalista não se esforça, não agrega o valor de fato ao lucro que tem (Marx,1996), portanto, não pratica a ação de acordo com a realidade, ele mesmo cria sua própria verdade, fazendo do mundo como se fosse seu mundo; da empresa como se fosse sua empresa; das pessoas, como se fossem suas pessoas e dos trabalhadores como sendo seus trabalhadores. Da mesma forma induz, ou pode induzir, todos os demais a acreditarem que aquilo é, de fato, a verdade ou algo natural no qual todos estariam sujeitos a viver (Keppe, 1987, 2003, Achbar, 2002, Heilbroner, Milberg, 2008, Moore, 2009, Ariely, 2009). Souza novamente esclarece um pouco a questão:

o trabalho dos outros] gera a mais-valia, que sorri ao capitalista em todo o encanto de uma criação do nada. [...] O processo de formação do capital, ao longo do tempo, sempre pressupôs a apropriação de parte do excedente produzido pelo trabalhador direto, fosse na Roma antiga, num feudo na Renânia, ou numa plantação de cana-de-açucar no Brasil colonial. (Souza, 2006, pp. 33)

É um modo de produção capitalista que trás a ideia do dinheiro gerar mais dinheiro (Marx, 1996) e faz a pessoa entrar em uma espécie de frenesi (Ritsko, 2010), tirando com isso a 39 pessoa da realidade (Keppe, 2003). Sabendo, ainda que de forma intuitiva, que ela não pode possuir tudo e que suas decisões trarão apenas mais um pouco de satisfação (Ferreira, 2008) a pessoa cria sua própria realidade, assim como pensa que pelo trabalho dos outros pode criar a sua também. No mercado financeiro isso fica muito evidente. É o caso da crise 2008, por exemplo (Ferguson, 2010).

Ritsko (2010), ao investigar sobre as hipotecas imobiliárias americanas na atual crise e o fato de muitas pessoas comprarem sem muita chance de pagá-las, pergunta: “por que é que há tanta gente disposta a correr tantos riscos?” Na Universidade de Stanford (EUA) foram realizadas algumas pesquisas que inicialmente não estavam relacionada com dinheiro. O psicólogo Brian Knutson utilizou tomografias computadorizadas, em que foi possível identificar como

“...as emoções afetam uma das partes mais antigas do nosso cérebro, que evoluiu há tanto tempo que a partilhamos com muitos seres, até com os lagartos. Em geral, quanto mais baixa for a área cerebral, mais recua na evolução. O ser humano ainda tem áreas subcorticais no cérebro, que são antigas. Esta parte do cérebro se chama núcleo acumbente e é acionada pelas necessidades humanas primitivas. Do ponto de vista da sobrevivência faz muito sentido que recompensas naturais, como comida e sexo, por exemplo, ativem este circuito que nos fazem ir atrás dessas recompensas. Esta parte do cérebro tem um papel crucial na toxicodependência.” Por curiosidade Knutson tenta encontrar coisas que a entusiasmem tanto como a esperança de encontrar sexo e droga. Pede às pessoas que imaginem que estão prestes a receber dinheiro. “Quando começamos a usar dinheiro, encontramos uma ativação fiável nestes circuitos emotivos. Sugere que não é apenas sexo, não é apenas droga, não é apenas comida que ativa estes circuitos. Mas também o dinheiro.” (...) Será que o fato de uma parte antiga do cérebro se entusiasmar com dinheiro explica comportamentos delirantes de negociantes e consumidores durante a expansão do mercado imobiliário?” (Ritsko, 2010)

Citando Robert Shiller, argumenta que as pessoas são, sim, afetadas por tal questão:

O que acontece é que à medida que a bolha cresce, entram cada vez mais pessoas nesse mercado. Entram porque tem inveja dos outros, que se gabam descaradamente. “ganhei mais do que tu ganhaste no ano passado a trabalhar. (...) é uma ato conduzido pela emoção humana”. (ibidem)

Novamente entra a questão da inveja. Entendendo ela ser uma atitude de não querer ver o bem de si mesmo e nem nos outros, tendo com isso uma atitude de deturpação, negação e omissão da realidade (Keppe, 1987), pode-se concluir que tais pessoas decidem acreditando que estão fazendo algo bom e o melhor para si mesmas e para a sociedade (sendo racionais e maximizando a utilidade), mas o que ocorre na prática é exatamente o contrário.

É possível, então, inferir que existe uma espécie de doença social embutida e gerada por esse modo de produção e geração de riqueza. É possível, portanto, deduzir que um tipo de doença psicossocial, uma psicossociopatologia, existe: a de apropriação indébita do trabalho alheio pelo modo como as empresas ou sociedades organizaram e organizam essa mesma forma de produção. Isso favorece apenas quem tira vantagem desse esquema corrupto de vida, e não a maioria. Todas as vezes que isso ocorre é, portanto, um erro. E 40 não mensurar nos modelos atuais, ou em todas as vezes que os agentes econômicos decidem, também pode ser entendido como uma falha no modelo. Eles decidem em cima desse erro, mesmo que de forma inconsciente, retroalimentando-o. O resultado não pode ser diferente: “(...) rastros de destruição, pilhagem e escravidão deixados pelos colonialistas europeus. Por que remunerar bem as gentes de cor [grifo do autor] da América Latina, Ásia e África? Elas já não se acostumaram a viver próximas da subsistência?” (SOUZA, 2006, p. 40)

O autor se refere aos tempos da colonização entre os séculos XV-XX, mas que pode ser verificado de forma análoga aos dias atuais. Conclui afirmando que

Quando se analisa a evolução do capitalismo europeu, verifica-se que a estruturação do comércio internacional serviu como instrumento de transferência de riquezas do mundo todo para a Europa. Verifica-se também que a base desta transferência estava na pilhagem, escravização e submissão dos povos da África, da Ásia, da América e da Oceania. A 53 superioridade militar a serviço da acumulação particular foi e é o principal mecanismo de transferência de riquezas dos países periféricos para os países centrais. (idem, p. 42)

Voltando à afirmação feita principalmente por Akerlof, Shiller (2010), Souza (2006), Keppe (1987, 2003), Achbar (2002), Moore (2009), Ritsko, (2010), Ferguzon (2010) e Pacheco (2008): de que esse sistema perverso no qual vivemos não é real e é muito corrupto onde predomina o domínio e a exploração de quem detém o poder, pergunta-se novamente: as decisões dos agentes econômicos são, de fato, racionais? Será que as decisões desses agentes, sejam a níveis macro ou microeconômicos, maximizam a utilidade e promovem um maior bem-estar a todos?

Pelo que foi exposto até aqui, não. E não o são, porque, no mínimo, é um pouco ilógico e impossível uma sociedade ser igualitária e distribuir equitativamente a renda com um sistema produzindo desigualdade, seja pela força, pelas leis, por produtos ou por ideologia. Não o são também porque as pessoas frequentemente agem por inveja, com base nas ideias e crenças preconcebidas anteriormente (Franceschini, 2012 e Ferreira, 2008, Keppe , 2002, 1987, Pacheco, 2003). Portanto, trata-se mais de uma forma de doença social oriunda do interior do ser humano. Assim os campos científicos e filosóficos no qual a economia (e demais ciências) foram se desenvolvendo fatalmente estão carregados desse fardo dos erros passados de seus autores e pensadores.

Parece lógico, portanto, querer que uma pessoa decida entre querer ter (apenas) um pouco mais de satisfação ou (apenas) um pouco menos. Nesse tocante, como já exposto, Ferreira (2008), não existem decisões plenamente satisfatórias. Keppe (1987, 2002) mostra que de certa forma o ser humano sabe disso e para evitar essa “dor” (conscientização) a mente pode vir a criar uma outra realidade paralela e egoísta, onde só quem vive essa realidade criada para si próprio, (acredita que) se satisfaz (Ferreira, 2008).

Podemos observar até aqui, que em boa parte das decisões que tomamos, mesmo os que tem mais posses financeiras que envolvem dinheiro, tomamos de forma muito semelhante com os animais. Seguindo mais um instinto de sobrevivência (baseadas nas funções mais primitivas do cérebro e da escala de Maslow). No entanto, “confundindo” este instinto para se “viciar” em consumismo e compulsões (Ritsko, 2010) e (Medeiros, 2009), via de regra,para trazer um certo prazer à mente e inconscientizar a consciência, alienar-se criando com isso uma realidade completamente irreal e retroalimentando toda uma forma invertida de se viver (Keppe, 2002 e Pacheco, 2003).

E se você fosse um passarinho que toma água de forma invertida, mora em uma sociedade que não é natural à sua, onde há seres não-passarinhos (que não são os gatos, cobras ou outros predadores naturais) se alimentam de aves ou seus ovos e que está longe de estar perto de sua essência boa, bela e verdadeira na qual e para a qual foi criado, fosse viver como um passarinho em locais onde se toma água em torneira? O que e como se adaptaria? Como viveria essa vida de passarinho? Seria uma vida boa? Você teria bem-estar? Estaria feliz vendo milhões de passarinhos infelizes?

Um “passarinho” analisará aspectos da realidade conforme lhe foi ensinado; consumindo e produzindo os produtos que lhe estão à disposição do jeito que der. Na maioria dos casos sem condições, sequer de saber se tem algo melhor para si, apenas sobrevivendo um dia depois do outro. Dificilmente ele verá claramente a forma como faz as coisas porque está inserido no meio deturpado em que foi criado, que por sua vez retroalimenta sua sua própria doença, influenciado por entidades não-humanas que se alimentam de toda essa situação sofrível.

Por isso é que, por exemplo, Jacques Fresco (pegar fonte e citar mais acima nos estudos tbm), propõe o projeto Vênus, onde visa, dentre ouras coisas, ter uma sociedade mais de acordo com a essência. Da mesma forma as sociedades alternativas de empresa e de vida, como comunidades agrícolas, colaborativas e as residências e empresas Trilógicas tem em sua base essa mesma ideia. Esse assunto será abordado mais adiante